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Desertos Alimentares: você sabe o que são? Conheça também os pântanos e oásis alimentares!

Desertos Alimentares: você sabe o que são?  Conheça também os pântanos e oásis alimentares!
Janaine Lorenceti
jul. 11 - 15 min de leitura
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Os desertos alimentares são áreas sem acesso a alimentos nutritivos e acessíveis. Você sabia que viver em um ambiente como este de desertos e pântanos implica diretamente na vida das pessoas? Isto pode se tornar um ambiente obesogênico!

No artigo de hoje vamos conhecer um pouco mais sobre este tema que vem crescendo no meio acadêmico (a passos lentos no Brasil) e já é comum em outros países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Por isso, estar atualizado é tudo! Então, corre para ver como estes espaços influenciam o seu paciente e como você, nutricionista, pode trazer a solução para a sua prática do dia a dia!

O que são Desertos Alimentares?

O conceito surgiu no Ministério de Agricultura dos Estados Unidos, que determina que:

um local é considerado deserto alimentar caso agrupe um quantitativo de quinhentas pessoas que tenham necessidade de se deslocar mais de 1,5 km para ter acesso a estabelecimentos de comida saudável e nutritiva, como hortifrutis e supermercados.

Isto define a vulnerabilidade do acesso espacial à alimentação saudável e a alta concentração de estabelecimentos comerciais de alimentos de baixo preço e baixo valor nutricional, deixando assim as populações vulneráveis e com possível desenvolvimento de agravos nutricionais como a obesidade.

O problema vem sendo cada vez mais documentado e caracteriza a expansão dos desertos alimentares no Brasil e isto significa uma mudança dos padrões alimentares da população. Ter mais acesso a produtos ultra processados e baixa oferta de frutas e hortaliças significa o aparecimento de agravos para a saúde, tornando assim o ambiente um espaço propenso ao aparecimento de desfechos nutricionais não almejados para a saúde em geral da população.

O que são Pântanos Alimentares?

Já o pântano alimentar refere-se a: 

uma área de 4 km, onde 90% dos comércios oferecem comida de baixo preço e com alta densidade energética, como redes de fast food, lojas de conveniência e pequenos mercados conhecidos por vender produtos de menor qualidade nutricional.

São áreas com relativamente poucas opções saudáveis ​​ou onde “grandes quantidades relativas de salgadinhos com muita densidade energética se sobrepõe as opções de comida saudável”.

    O que são Oásis Alimentares?

    Segundo o Departamento de Saúde de Washington, oásis alimentares podem ser definidos como:

    qualquer lugar onde as pessoas tenham o melhor acesso possível a opções saudáveis e ambientes alimentares que favoreçam a alimentação saudável. 

    O acesso inclui acesso físico e financeiro a alimentos e bebidas saudáveis, de alta qualidade, acessíveis, culturalmente aceitáveis ​​e que atendam às necessidades nutricionais das pessoas da comunidade.

    Ter próximo à residência, frutarias, feiras ou hortas, torna o ambiente mais saudável, onde é possível que a pessoa tenha acesso a estes alimentos de forma que eles se tornem sua primeira opção de escolha, tornando um hábito comprar alimentos minimamente processados.

    Como identificar Desertos e Pântanos Alimentares?

    Você pode identificá-los quando o seu paciente relata:

    • Haver um supermercado ou hipermercado próximo do local onde ele reside;
    • Que não há feiras ou frutarias próximas do local onde mora;
    • Ou quando o seu paciente precisa se locomover para outros lugares, para ter acesso aos alimentos e efetuar a compra dos alimentos que costuma consumir. 

    Quais são as consequências de se viver em um deserto ou pântano alimentar?

    A maior consequência de se viver em um deserto alimentar ou pântano alimentar é a violação de um direito humano importantíssimo: o acesso a alimentação.

    ‘’O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação constitui-se no próprio direito à vida. Negar este direito é, antes de mais nada, negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida.’’ (Josué de Castro, 1999).

    É possível observar por diversos relatos e alguns estudos que pessoas que vivem em regiões mais afastadas, como são os casos de bairros, cidades, regiões do país, ou até ilhas (que às vezes não fazem parte da nossa realidade) têm dificuldade de acesso e não têm a garantia de obter os mesmos alimentos que são considerados fundamentais para uma boa alimentação como: frutas, verduras e legumes.

    Isto gera nestas populações insegurança alimentar e nutricional e total vulnerabilidade para a saúde. Por isso, a vigilância alimentar e nutricional é fundamental para assegurar que esses direitos de ter acesso à alimentos saudáveis façam parte da rotina alimentar de todos.

    Ter acesso à alimentos processados e consumi-los diariamente reflete diretamente na saúde das pessoas, logo o impacto causado por desertos e pântanos alimentares é visto como resultante do ambiente com a saúde direta do indivíduo. E alguns dos problemas envolvidos neste contexto são:

    • Obesidade;
    • Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT);
    • Hipertensão;
    • Diabetes;
    • Síndrome metabólica.

    Desertos, pântanos e oásis alimentares X escolhas alimentares...

    Ao viver em um ambiente com essas condições, que são consideradas desertos alimentares ou pântanos, é fundamental que a pessoa realize escolhas alimentares adequadas, dentro de ambientes como estes. E para isto, Educação Nutricional ou Reeducação Alimentar é fundamental neste processo. E nós, como nutricionistas, devemos orientar nossos pacientes com essa visão, analisando o ambiente no qual o indivíduo está inserido. 

    Ainda que a disponibilidade de alimentos saudáveis seja significativa em um contexto de fornecimento e preço ideais, as decisões dos consumidores estão frequentemente condicionadas à influência da propaganda e até à forma como os alimentos são comercializados, uma consequência de nosso modelo produtivo. (VEDOVATO, et al. 2015)

    Sabemos que influências de meios de comunicação estão muito presentes na vida das pessoas e assim, sem orientação do profissional da nutrição, acabam criando hábitos na hora da aquisição do alimento dentro de estabelecimentos como mercados, supermercados e hipermercados como:

    • Adquirir produtos por marca;
    • Preferir o alimento ultra processado pela facilidade;
    • Preferir alguns produtos pela embalagem, sem olhar rótulos nem ingredientes;
    • Preferir o alimento ultra processado pelo preço acessível.

    Logo, cabe a nós tirarmos as dúvidas do paciente e orientá-los de forma coesa para que esta aquisição dos alimentos seja o primeiro passo para uma alimentação saudável e adequada independente do ambiente em que o paciente está situado.

    7 pontos a serem considerados na escolha de um alimento

    Além do ambiente em que a pessoa está situada, a escolha ao alimento envolve diversos fatores como:

    1. Localização geográfica e logística de distribuição: o microambiente alimentar ao qual a pessoa está situada pode interferir diretamente na escolha dos alimentos.
    2. Condições socioeconômicas: este fator interfere na compra e muitas vezes no deslocamento das pessoas para ter acesso a uma alimentação de qualidade.
    3. Qualidade dos alimentos: aspectos organolépticos dos alimentos in natura, interferem na escolha do que o consumidor levará para casa no final.
    4. Padrão alimentar: as pessoas costumam criar padrões alimentares diferenciados, e isso afeta a escolha dos alimentos, o que varia de pessoa para pessoa, de região para região.
    5. Escolaridade: a escolaridade, e informações ao qual a pessoa já teve ou tem acesso influenciam na escolha dos alimentos.
    6. Meio digital: o acesso à tecnologia proporcionou o acesso a informações de uma forma rápida sobre alimentação e a forma como são propagadas estas informações influenciam na escolha dos alimentos.
    7. Autocuidado: se o indivíduo tem a conscientização sobre saúde e prevenção e entende a relação entre alimentação e saúde e o impacto que isso tem a curto e longo prazo, normalmente ele tende a desenvolver escolhas alimentares visando a sua saúde.

    Um Retrato da Atual Realidade do Consumo Alimentar Brasileiro

    Para identificarmos como nós, brasileiros, estamos, vou destacar alguns estudos para você analisar o consumo em geral da nossa população e como isso pode estar corriqueiramente sendo visto na rotina do profissional da Nutrição.

    O abastecimento de alimentos no Brasil vem mudando constantemente. A contínua concentração do setor de varejo vem, desde então, modificando a forma de aquisição de alimentos nas cidades, a organização das cadeias de suprimento e o padrão alimentar da população, caracterizada por um processo de homogeneização. A ascensão dos supermercados revolucionou o consumo e os modos de vida da população em todo o mundo.

    O mercado de alimentos frescos, como feiras e açougues, está desaparecendo como a principal fonte de alimentos no mundo e vem sendo substituído por supermercados, geralmente partes de cadeias multinacionais que atuam como instrumentos de empresas transnacionais para ofertar aos consumidores uma ampla variedade de alimentos ultra processados.

    No Brasil, em 1980, os produtos in natura participavam com 44% no consumo alimentar e os alimentos industrializados contribuíam com 56% desse consumo. A partir da década de 1990 essas proporções se modificaram para 30% e 70%, respectivamente, chegando, em 2008, a uma relação de 15% para consumo de alimentos in natura contra 85% de alimentos industrializados (IBGE,2010).

    Esta disponibilidade dos alimentos está abaixo do ideal em todas as regiões e classes econômicas da população, porém TRÊS VEZES MAIOR EM ÁREAS URBANAS, quando comparadas com áreas rurais do país.

    Alimentos de alta densidade energética, como alimentos processados e industrializados, fazem parte do consumo diário de grande parte da população brasileira. Alguns exemplos são as bebidas adoçadas como: refrigerantes, sucos de caixinha, néctar, refrescos em pó.

    Segundo uma pesquisa publicada no European Journal of Nutrition, em 2018, mais de 75% das crianças e adolescentes do México, Brasil e Argentina beberam pelo menos uma dose de 250 ml por dia de bebidas com alto teor de açúcar.

    Em áreas URBANAS do Brasil, o consumo de biscoitos recheados, salgadinhos industrializados e refrigerantes é maior do que nas áreas rurais.

    O aumento da importância da alimentação fora de casa é outro exemplo de impacto da urbanização, impactando diretamente no consumo alimentar brasileiro. Esse padrão alimentar de comer fora de casa é responsável por 17% do total de calorias consumidas pela população de baixa renda e 29% pela população de renda mais alta, e 40% de calorias vindas de refrigerante, por exemplo, é proveniente da alimentação fora do domicílio.

    Por isso, é fundamental observarmos o ambiente ao qual nosso paciente está inserido, para assim, realizar as orientações nutricionais individualizadas, levando em consideração aspectos sociais, econômicos e espaciais, que como estamos observando, faz a diferença na vida das pessoas.

    Nutricionista, preste atenção nestas 5 dicas para combater os desertos alimentares!

    Percebemos que os aspectos do ambiente ao qual a pessoa está inserida são particularmente importantes para mudanças no padrão de consumo alimentar! 

    Neste contexto, estes aspectos incluem a acessibilidade a restaurantes e supermercados, disponibilidade dos alimentos, preço e qualidade de diversos alimentos.

    Aqui, preparei dicas de como aplicar isto na prática do nutricionista, então vamos lá:

    #1 Preste atenção onde seu paciente mora!

    Normalmente para o cadastro do paciente precisamos do endereço onde ele mora, e normalmente nunca ligamos para essa informação. Mas isso pode ser mais útil do que você imagina.

    Ao colocar o endereço do seu paciente em mapas online da internet você pode identificar locais onde o seu paciente está morando e identificar se ele está em situação de desertos, pântanos ou oásis alimentares.

    #2 Preste atenção onde o seu paciente trabalha!

    Onde ele costuma realizar a suas refeições no trabalho? Você já perguntou para isso ao seu paciente?

    Normalmente é neste local que ele costuma dar uma ‘’escapadinha’’ na alimentação. Logo, localizar o endereço do trabalho pode ser importantíssimo, para você analisar onde ele pode se alimentar melhor.

    #3 Faça seu paciente se sentir importantíssimo!

    Que tal criar uma lista de locais onde o seu paciente pode fazer as compras próximo a casa dele, demonstrando os locais para adquirir alimentos saudáveis, deixando o seu paciente com opções para ele mudar seus hábitos alimentares? Com isso você também pode criar uma lista de restaurantes e locais saudáveis para o seu paciente almoçar ou fazer um lanche enquanto trabalha.

    Não esqueça de mostrar a ele as opções saudáveis que ele pode levar de casa para o trabalho. Então dá uma olhada nestes artigos de marmita saudável e salada no pote. Com isso, o seu paciente sentirá a sua dedicação para ele, e resultará em motivação e mudanças de hábitos.

    #4 Acompanhe-o, faça uma consulta em um espaço de compra

    Faça uma consulta diferenciada! Marque um dia para ir juntamente com ele em algum local de compra (mercado, frutaria, supermercado, hipermercado), para explicar rótulos e estimular a escolha dos alimentos adequadas, evitando as tentações. Você pode ainda indicar para ele ler esse artigo sobre como fazer boas escolhas no supermercado!

    #5 Vamos para a Feira?

    Estimule o seu paciente a ir a feiras livres e a feiras orgânicas para estimular na escolha de alimentos saudáveis!

    Vale a pena lembrar de fazer uma lista com feiras próximas ao seu paciente, para dar opções para ele se motivar a participar destas feiras e ter contato com produtores que sabem a procedência do seu produto. Confira mais dicas neste artigo: 5 motivos para consumir alimentos orgânicos (e como não pagar caro por eles).

    Então nutri, você já sabia sobre estes novos conceitos da Nutrição?

    Novas linhas de pesquisas em universidades de Nutrição vêm trazendo este tema, para aprofundar mais as pesquisas sobre este assunto aqui no Brasil. E isso só vem acarretando mais conhecimento e aplicação na prática para nutricionista e para os pacientes. Você já conhecia algo sobre estes assuntos? O que achou das dicas? Comente e compartilhe comigo!

     


    Referências:

    CARNAÚBA, Valquíria. Deserto alimentar faz soar alarme no Brasil. Entre Teses Revista Unifesp, São Paulo, v. 1, n. 10, p. 22-35, jul. 2018.

    GANDY, J. et al. Fluid intake of Latin American children and adolescents: results of four 2016 LIQ.IN 7 National Cross-Sectional Surveys. European Journal of Nutrition. Jun 2018; 57 (3): 53–63.

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009.

    JUNIOR, N.N..; LEDA, L.C. Comércio tradicional de alimentos: avanço na contracorrente. Retratos de assentamentos, v. 20, n. 2, p. 13-31, 2017

    LEVY, R.B. et al. Regional and socioeconomic distribution of household food availability in Brasil, in 2008- 2009. Rer. Saúde Pública 2012; 46(1): 6-15.

    LUAN, H. et al. Identifying food deserts and swamps based on relative healthy food access: a spatio-temporal Bayesian approach. Int J Health Geogra 14:37, 2015

    MACHADO, P. P.; Influência dos supermercados na disponibilidade e preço de alimentos ultraprocessados consumidos no Brasil. [Tese de Mestrado]. São Paulo. Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; São Paulo; 2016.

    SWINBURN, B.;et al. The global obesity pandemic: shape by global drivers and local environments. Lancet, v. 378,p.804-814,2011.

    VEDOVATO, Gabriela. Mihassi.; TRUDE, A. C. B.; KHARMATS, A. Y.; MARTINS, P. A. Degree of food processing of household acquisition patterns in a Brazilian urban area is related to food buying preferences and perceived food environment. Appetite: 2015 v. 87, p. 296-302. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed /25576022> Acesso em: 10 jun.2019


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